A história do cacto e da rosa
Um belo dia (na verdade, nem tão
belo assim, lembro que houve uma briga por algum motivo que com certeza não era
merecedor da discussão, mas aconteceu) eu ganhei um cacto. Eu acho cactos muito
lindos e autossuficientes, e me senti muito feliz ao ganhar um de presente. Eu
tenho muita admiração por cactos. E coloquei o nome dele de Jorge. Nesse dia,
meu ex namorado meu deu um cacto e uma flor, bem delicada, e falou que eu era essa
flor e ele era o cacto. Nunca achei que ele estivesse falando literalmente.
Escolhi um lugarzinho estratégico
para os dois, na minha janela, para que todos os dias eu pudesse olhar para
eles e desejar bom dia. E eu estava tão feliz com aquele presente, e tão
determinada a cuidar deles, porque final, era eu e meu (ex) namorado ali e eu
não iria deixar aquelas duas plantinhas morrerem. Mas por algum motivo, acabei
tendo um maior carinho e uma maior atenção com o cacto. E esqueci que talvez
aquele lugar não fosse tão bom para a flor, talvez ela não precisasse de tanto
sol. Ela não era o cacto e tinha necessidades diferentes. Eles não precisavam
estar juntos o tempo inteiro. E aconteceu que a flor aos poucos foi ficando
feia, e caída, e murcha. Mas eu não me esforcei o suficiente para salvá-la,
afinal, eu tinha o cacto. E ela morreu. Fiquei triste, me lamentei, mas segui
com a vida – a vida cuidando do cacto, no caso. E todos os dias, eu coloquei
água para Jorge. Vocês já conseguem ver onde eu errei, certo? Pois é, eu não
vi. Para mim, eu estava sendo uma excelente pessoa! Todos os dias eu coloquei
água para que ele crescesse bem, saudável e feliz. Porém, ele morreu. E eu me
senti a pessoa mais inútil da face da terra.
Quando conto essa história, as
pessoas riem e falam “Como você matou um cacto? É só deixar ele lá”. Mas porque
eu só não deixei ele lá? Porque eu achei que seria uma pessoa ruim se eu não
estivesse 24h ao dia dando amor e atenção ao cacto? E porque eu não dei a mesma
atenção para a flor, um milhão de vezes mais delicada e necessitada de água e
proteção?
Na época, eu não entendi. Mas
hoje, eu vejo claramente como a forma que eu cuidei do cacto fala sobre mim em
relação aos outros. Como a forma que eu cuidei da flor fala sobre mim em
relação a mim. Eu tentei dar muito amor, eu tentei dar o melhor para o cacto, o
melhor que eu achava que era para ele, mas no fundo, ele só precisava de
espaço. E eu poderia ter focado todo esse meu cuidado em mim, ter me dado
carinho, ter me regado. Mas eu deixei os dois morrerem e agora, eles não estão
mais juntos.
Hoje, eu tenho outros dois
cactos. Saudáveis, felizes e que as vezes, eu esqueço que eles estão na minha
janela. Mas quando lembro, passo alguns minutos da minha vida olhando para eles
e colocando um pouco de água em cada um. E depois, sigo a minha rotina diária.
E tenho eles por muito mais tempo comigo do que tive Jorge. Porque eu dei
espaço, para eles e para mim.
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