Amores de Olinda


Era uma festa. Uma festa de rua, repleta de gente. De rua, de álcool, de sorrisos e de vida. Algumas de pouca vida, mas essas eu só avistei.
Olinda, sem dúvidas, é o meu lugar predileto no mundo. É um lugar tão simples e maravilhoso. Tão colorida em época de festa e tão sombria em dias aleatórios. Olinda é apaixonante. É um misto de querer estar e querer fugir. É um lugar onde histórias começam, histórias terminam. Fotografias são postadas, fotografias são apagadas. Pessoas são expostas, pessoas vão embora. Amores ficam, amores nunca mais voltam, amores, falsos amores, amores por um dia, por uma semana, por uma conversa, por uma bebida, por uns beijos amargos. Olindar deveria ser verbo. E nesse dia, eu olindei.

E nessa noite, mal sabia eu que haviam três amores. Um que terminava, um que tumultuava e um que começava.

E era uma movimentação. Não conseguia identificar quem era quem, quem deveria ser. E nesse vai e vem, vem e volta, eu quase cai. Mas então, surgiu, não quem eu precisava, mas quem eu queria. Foi como se nunca mais o tivesse visto. E só fazia um dia. Tenho certeza que eu estava com cara de doente e em milésimos de segundos, abri um sorriso imenso. Talvez tenha sido até um pouco assustador para quem estivesse de fora. Era assustador até mesmo dentro de mim. E havia o abraço. Por que eu tenho que gostar tanto de abraços? Mas não bastava eu estar carregando uma bagunça de sentimentos – bons e ruins – nos braços, Olinda quer sempre surpreender. E me trouxe uma surpresa. Um carinho. E todo aquele sentimento que eu segurava, aquele pouco de razão que o álcool ainda não havia consumido, se misturaram no meio do povo e eu me tornei uma multidão também, uma multidão de beijos despreocupados e carentes. Uma multidão de “não me importo”, uma multidão que no fim da noite, estaria vomitando todos os chocolates, todas as palavras em inglês. Uma multidão que no fim da noite, seria de uma pessoa só, sentada numa calçada olindense.

E o pior, não havia ninguém que eu pudesse culpar.

Mas sabe de um segredo? Olinda te rouba, mas te devolve em dobro. E ainda dá uma risadinha na sua cara. E eu estava ali, sentada e só precisei levantar a cabeça, literalmente, para encontrar mais um amor. Aquele que não deveria estar, mas que precisava.

Diferente do primeiro, não me senti cheia de algo. Eu até que sentia, mas era raiva e depois, nada. Foi só o vazio, uma Olinda calada e a voz dele me seguindo. E eu entendi algo que estava estampado em todas as respostas curtas, em todos os desencontros: eu idealizo tudo. É minha proteção. Acreditar que há algo melhor reservado para mim. E eu sei que há, mas não nele. Não em fulano, nem em cicrano. Está em alguém que eu não procuro, que eu não encontro nada. Nele estará tudo que eu preciso e enquanto eu procurar nas pessoas erradas, vou continuar me perdendo em todas as tentativas. E mais uma vez, eu me perdi. Olinda me devorou da forma mais delicada que uma cidade pode devorar um cidadão.

Depois de um amor resolvido, de outro bagunçado, vem o novo. É sempre difícil você falar daquilo que não conhece. Mas como eu disse, gosto das minhas idealizações e por isso, idealizo mais um personagem da minha história. Se eu pudesse definir minha vida de uma forma bem clichê, definiria como uma montanha russa. Mas não essas que a gente encontra no Mirabilândia. Uma montanha russa digna de parque da Disney. Dessas que vai do topo ao chão num tempo quase imperceptível. Tanto faz eu estar vivendo num momento muito, muito, leiam de novo, muito ruim, quanto acontecer algo muito, muito, muito bom. Mas claro, nada tem aviso prévio. É sempre assim...puf, já aconteceu. E nessas subidas e descidas, eu paro no meio do caminho para admirar, não, encarar um alguém. Encaro por uns 5 segundos e vou embora. Não tenho mais tempo, sabe? Prefiro gastá-lo numa piscina ou num bar mexicano, não esperando alguém ou correndo atrás de mais uma incerteza. E lá vem a incerteza até mim. Não sei por que me espantei. Olinda tem seus esconderijos, mas ainda assim é difícil de se esconder no meio de tanta gente. Talvez ele tenha me procurado, talvez tenha sido o acaso, eu preciso mesmo saber? Não, não mesmo. E é só mais um amor, só mais um texto, só mais uma festa nas ladeiras dessa cidade incrível.


Espero que vocês entendam que amor nesse texto não tem o sentido de...amor. Sinto amor, mas pela cidade, pelo sentido de ser e viver Olinda. E em cada história que eu escrever ou que eu idealizar em Olinda, será também um amor, para não chamar de caso, para não chamar de acaso. É um pedacinho dessa cidade em mim. É um aperto no coração quando lembro do carnaval. É um sorriso no rosto quando vejo as fotos. É um sentimento de quero Olinda, quero amor todos os dias da minha vida. E por isso, guardo comigo todos os amores que Olinda quiser me apresentar. Confio em todas as tuas épocas, todas as tuas festas e todas as tuas estações. Estarei em cada uma delas, se Deus permitir, com o mesmo amor de sempre.

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