paixões carnavalescas


Olinda, 06 de fevereiro de 2016 - 09:00 hrs

Uma lata de Skol Beats na mão direita, o celular com o snap aberto na mão esquerda. Um pouco (bestante) glitter no rosto, uma camisa regata e uma tiara de flores. Ao som de alguma marchinha de carnaval, encontra alguns amigos. Abraços sinceros, sorrisos abertos, conversas ensaiadas. Ladeira sobe, ladeira desce. Blocos se misturam, bebidas se derrubam, pessoas de esbarram. E num desses empurrões, alguns olhares diferenciados. Num grupo aleatório de conhecidos, um estranho. E é aquele que chama atenção. Fulana de tal, fulano de tal. Prazer. O prazer é meu. Beijinho na esquerda, beijinho na direita. Lembra das conversas ensaiadas? Então, elas funcionam querendo ou não, mas são detalhes que fazem aquela conversa ser lembrada depois de três latinhas de cerveja. E numa parada programada no murinho da ribeira, um minuto para de encostar e dobrar os joelhos, uma fantasia engraçada, um sorriso espontâneo, um beijo rápido.

Eu estava na ribeira. Eu poderia ser essa pessoa. Mas eu já havia encontrado minha paixão carnavalesca. Havia o brilho, o Sol, os amigos, a bebida, as piadas e as ladeiras, com certeza as ladeiras se faziam presentes. Eu estava no mesmo murinho, em vez do beijo, mãos dadas. Em vez da conversa padrão, pensamentos soltos, sem medo de espantar o alvo. Poder abraçar, poder beijar quantas vezes eu quiser. Um sentimento bom de no meio de tantas máscaras, tantas fantasias, poder ser do jeitinho que eu sou naqueles 365 dias do ano. Um mundo querendo os quatro cantos. Nosso mundo querendo as quatro paredes.


Olinda, 06 de fevereiro de 2016 - 20:00 hrs

As pernas cansadas, o corpo doendo, a cabeça girando. Mas isso é o carnaval em Olinda, não é mesmo? Então, nada fora do controle. Só é aquela embriaguez do frevo que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé. Depois de 18:00 horas, a cor de tudo é de lama. Uma lama com pontinhos azuis, rosas, amarelos, verdes, vermelhos... Mas o fundo é marrom. Uma mistura de tudo, com terra, suor e cerveja. Um cheiro meio peculiar, eu diria. Um sentimento de exaustão. Um desejo de banho. Uma preparação psicológica para o Recife Antigo. Uma nova paixão está por vir. Aquela foi deixava no meio dos foliões, para outra pessoa. Olinda é mesmo um amor de cidade. Olinda é mesmo um lugar de Seu Ninguém. Olinda é para todos e para cada um. No Recife, um carnaval mais...selecionado. Tão bom quanto, mas com uma superfície plana. E dessa vez, não houve nem mesmo uma conversa, só uma interrupção no roteiro, um "posso te conhecer?" e um outro beijo. E um monte de confete. Não na cara, No estômago, mesmo.

Minha paixão de carnaval eu havia conhecido em outros carnavais. Aquele mesmo beijo por todo o sábado. E depois por todos os quatro dias de festa. E depois? Por todas as datas comemorativas do ano. Eu poderia ser essa pessoa. Ele poderia ser o rapaz ousado que só queria mais um beijo na cota. Mas estávamos ali. Um encostado no outro, sendo fevereiro e sendo carnaval. Um Netflix aberto, sem saber qual filme assistir. Uma noite inteira eu olhando pra ele, sem saber como alguém que já foi tão machucada, tão desacreditada, poderia estar assim, tão envolvida em um abraço e depois, morrendo de rir com uma maldita cócega no pescoço. Uma foto nunca vai retratar o quanto eu estou em paz por ele ter chegado. Uma legenda nunca vai explicar o quanto o sorriso dele me faz querer continuar. Acredito eu que, se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.


Não tem paixões certas e paixões erradas. Tem histórias que precisam ser vividas, tem momentos que são necessários. Já tive todos os tipos de paixões. Hoje, tenho um amor. Já fui cada tipo de olidance, hoje continuo sendo. E minha gente, vamos pra avenida desfilar a vida, carnavalizar. Talvez a maior paixão carnavalesca seja por si e pela vida, sentir a batucada se aproximar e ensaiar pro mundo inteiro tocar.

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