Eu me tenho, mas não me basto. E tudo bem.

Eu acho que se bastar é diferente de se ter. Eu aprendi a me ter e me tenho todos os dias, e me ter me ensinou a me segurar, a me empurrar, a me levantar. 

Me ter fez com que eu aprendesse a lidar com a ansiedade, fez com que eu gostasse de estar comigo. Fez com que uma ida ao cinema só, se tornasse incrível, ou uma tarde num parque, ou numa cafeteria. Me ter fez com que eu me parabenizasse pelas coisas boas que faço, e não precisar esperar que os outros façam isso por mim. 

Me ter fez com que eu fizesse as pazes com a solidão. Fez com que eu aprendesse a ficar só com ela, sem começar a chorar. Fez com que eu me olhasse e me enxergasse. 

Mas eu não me basto e nem quero.
Eu preciso dos meus amigos naquele dia que me sentir feia e inútil. Eu preciso do meu pai quando me sentir perdida. Eu preciso de alguém para ir matar a minha carência quando eu chamar.
Eu não me basto porque vivo em sociedade e convivo com quem me rodeia. Porque preciso passar o que aprendo e vejo e leio sobre café. Eu não me basto e por isso, eu escrevo. Não cabe tudo aqui dentro. Sou muito pequena.

Eu preciso das minhas amigas me dando um norte quando não souber se aquele garotinho gosta de mim. Eu preciso de alguém para compartilhar um meme engraçado do instagram, ou uma postagem polêmica.

Eu me tenho e gosto de beber sozinha. Mas eu não me basto nos dias que quero ir num bar e filosofar sobre o capitalismo, enquanto bebo uma (ou quatro) cervejas.

E é por isso que ainda machuca. Porque ter responsabilidade emocional machuca, mas faz bem. Porque você aprende. Você cresce. E eu não me basto, porque não consigo aprender e crescer só. E nem quero. Nunca vou abrir mão do que eu aprendo e do que já aprendi com o tanto de gente que passou por mim.

Eu me tenho e sou boa pra mim. Mas preciso de alguém pra mandar um bom dia e depois de muito tempo, eu entendo que não tem problema ser assim. Porque eu me tenho e tudo bem, independente do que aconteça, eu vou estar aqui pra mim, então eu posso me entregar um pouquinho às outras pessoas.