Só mais uma história

Eu estava onde eu queria estar, no melhor lugar do mundo: a biblioteca do meu bairro. Era pequena, um pouco escura, mas muito aconchegante, um amor de lugar. Estava no primeiro andar, então, por um segundo que desviei os olhos do livro, cruzei com os olhos de um estranho do térreo. E depois, ele sumiu.



Em menos de cinco minutos, alguém sentou na cadeira ao meu lado. Era o estranho do térreo. Continuei lendo até que ele veio falar comigo.
- Sobre o que é esse livro?
- Desapego.
- O mundo não precisa disso.
- Mas eu preciso.
E então, os dois voltaram a ler, quer dizer, eu comecei a fingir que estava lendo, quando na verdade estava procurando um assunto que pudesse falar.
- Esse livro é muito bom - falei.
- Ela está morta, não é?
- Não sou dessas que conta o fim da história.
- Pra você o fim é mais importante do que o começo?
Pensei sobre aquilo.
- Talvez.
- Então você acha que o August ter morrido foi mais importante do que eles terem se conhecido?
- Você leu "A culpa é das estrelas"?
- Você não me respondeu.
- Cada história é diferente.
- Você já conheceu alguém em uma biblioteca?
- Não.
- Eu acho que você já pode parar de ler esse livro. Não vai mais precisar dele,

Continuamos conversando a tarde toda e depois nos vimos no dia seguinte, e na semana seguinte e na outra também, até que começamos a namorar, nos casamos, tivemos dois filhos lindos e saudáveis, e envelhecemos juntos, tão apaixonados quanto no começo, provando que sim,o começo é mais importante do que o fim, por que talvez, nem haja fim.



Seria uma história linda. Poderia ter acontecido? Claro. Aconteceu? Na vida real, não. Ele não subiu até o primeiro andar, eu não sei se ele gosta do John Green, não sei nem se ele é simpático e provavelmente, nunca vou saber. Então, depois de ter criado mais uma história feliz, mais um diálogo qualquer, voltei a ler o meu livro sobre desapego.


Postagem por: Maria Eduarda Cazé

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