Poeme-se

Durante toda minha vida, até hoje, meu pai sempre procurar presentear a mim, aos meus irmãos e a minha mãe. E são presentes valiosos. Não porque são caros, muito pelo contrário, são o mais simples possíveis, mas tem um significado tão importante, que guardamos dentro da gente. Um certo dia ele chegou em casa com esse caderninho, feito especialmente pra mim, com 10 poemas selecionados por ele. Eu gosto tanto desses poemas, que resolvi compartilhar um trechinho de cada um com vocês. E pai, não tenho palavras para agradecer o homem que você é na minha vida.


A Máquina do Mundo (Carlos Drummond de Andrade)

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restava
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los
se em vão e para sempre repetimos
os mesmo sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.


Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que eu escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


Saudades (Clarice Lispector)

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...


Soneto da Fidelidade (Vinícius de Moraes)

Eu posso me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Via Láctea (Olavo Bilac)

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vou direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

[...]

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."


O Cão Sem Plumas (João Cabral de Melo Neto)

A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.


Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.


As Cismas do Destino (Augusto dos Anjos)

Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo!


As Pombas (Raimundo Correia)

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.


Invenção de Orfeu (Jorge de Lima)

Nobre apenas de memórias,
vai lembrando de seus dias,
dias que são as histórias,
histórias que são porfias
de passados e futuros,
naufrágio e outros apuros,
descobertas e alegrias.


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